quarta-feira, 17 de julho de 2013

"A flora nacional concentra a maior biodiversidade do mundo. São 55 mil espécies catalogadas, o correspondente a 20% do total distribuído pelo planeta", dispara o médico Roberto Boorhem, presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia. Esse tesouro natural é uma oportunidade de avançar na descoberta de novos tratamentos médicos, desde que utilizado com critério científico. 

Antes de tudo, apague a crença de que tudo que é natural não faz mal. "As plantas necessitam de recursos químicos para se defender, como alguns alcaloides, que, por serem amargos e tóxicos, afastam predadores, ou óleos essenciais, que atraem aves para a polinização", exemplifica a farmacêutica Ivana Suffredini, da Universidade Paulista, na capital. "Assim como algumas dessas substâncias podem atuar positivamente no organismo humano, outras provocam sérios danos", alerta.
Outra confusão que precisa ser desfeita é usar os termos plantas medicinais e fitoterápicos como sinônimos. "Fitoterápicos são remédios, que passam por uma rigorosa avaliação de segurança e eficácia em seres humanos, com uma concentração de ativos padronizada, o que nem sempre ocorre com as folhas para o preparo de chás", diferencia a geriatra especializada em fitomedicina Rita Ferrari, de São Paulo. 

Não quer dizer que a população tenha de abandonar as infusões, respeitando-se algumas medidas de cautela. Com o respaldo de investigações sérias e de anos de uso popular registrados, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma lista de 66 espécies eficazes, com suas respectivas indicações de uso. As plantas mencionadas nesta reportagem aparecem nessa relação e são rotuladas como drogas vegetais. "Esses chás devem ser consumidos somente para alívio de sintomas agudos, sem ultrapassar 30 dias. A utilização prolongada exige o acompanhamento de um médico ou nutricionista", esclarece Boorhem. 

A procedência da planta também requer total atenção. "Algumas espécies são muito semelhantes e facilmente confundidas, o que é perigoso", justifica Ivana. Você só deve adquirir o produto de farmácias ou casas de ervas idôneas. "A Anvisa já tem uma proposta para regulamentar a venda dessas drogas vegetais", afirma Douglas Duarte, coordenador de assuntos regulatórios da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais. "Elas deverão ser comercializadas em embalagens que estampem especificações como alegação terapêutica e orientação de consumo." O selo do Ministério da Saúde, portanto, será, em breve, mais uma garantia para o consumidor. 


Sinal amarelo 
Remédios de uso contínuo nem sempre combinam com plantas medicinais. "Alguns ativos dos vegetais potencializam ou anulam os seus efeitos", avisa Ivana Suffredini. Portadores de doenças crônicas — como as cardiovasculares, as renais, as hepáticas, o diabete, o câncer e a epilepsia — também não devem ingeri-los por conta própria, já que o consumo pode ser tóxico para o seu organismo mais sensível e agravar o quadro. O último alerta é para as grávidas. "Elas jamais devem tomar chás e fitoterápicos sem o médico ter prescrito. Muitos contêm substâncias que contraem a musculatura uterina, arriscando a gestação", diz a farmacêutica Mary Anne Bandeira, coordenadora do Projeto Farmácias Vivas, da Universidade Federal do Ceará. 

Esperança contra o câncer 
O primeiro fitoterápico brasileiro contra tumores já está em fase de testes com seres humanos. AEuphorbia tirucalli, espécie conhecida como aveloz, mobilizou grandes hospitais, como o Sírio-Libanês e o Israelita Albert Einstein, ambos em São Paulo, que avaliam, em pacientes graves, a eficácia de um remédio à base de seus componentes no controle do câncer de mama e de próstata. "As substâncias do aveloz desestruturam as células cancerosas e as induzem à morte", explica o farmacêutico Luiz Pianowski, que coordena pesquisas sobre a planta no laboratório Amazônia Fitomedicamentos. "Seu principal trunfo é atuar de maneira seletiva, poupando células sadias que costumam ser afetadas pela quimioterapia", destaca. Na opinião do oncologista José Augusto Rinck Junior, do Hospital A.C. Camargo, a droga é uma aposta, mas ainda são necessárias mais investigações que comprovem sua segurança e vantagens em comparação com medicamentos padrão 

Do jeito certo 
Os chás medicinais são bem-vindos para aliviar sintomas agudos, desde que consumidos em situações pontuais e respeitando as orientações descritas anteriormente. Para tirar proveito da infusão, siga as recomendações de preparo: verta água fervente sobre as folhas e, em seguida, abafe o recipiente por cerca de cinco minutos. Coe e beba. No caso de partes mais rígidas da planta, como cascas, é preciso submetê-las a um processo de decocção, que consiste em uma fervura durante dez minutos. Para obter mais informações sobre doses e modos de preparo, acesse o site de SAÚDE!


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